quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Luiz Pinguelli Rosa, da Coppe/UFRJ: eficiência energética - do papel para o real

A eficiência energética ganha cada vez mais espaço na pauta do setor elétrico. Dez anos depois do racionamento, quando a população se viu obrigada a controlar o consumo de energia, não por consciência ambiental ou para evitar o desperdício, mas sim porque a oferta não era capaz de atender a demanda, o governo está prestes a lançar o Programa Nacional de Eficiência Energética. O PNEf tem como meta uma redução de 10% do consumo de energia até 2030.

Para Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, o PNEf tem um papel importante porque viabiliza o Plano Decenal de Energia 2019 (PDE 2019), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Segundo ele, o PDE considera que a eficiência energética total vai permitir uma redução de 13,3 milhões de toneladas equivalentes de petróleo no horizonte do plano. "Acho que o PNEf vem para explicitar como serão feitas as ações de eficiência energética", avalia o professor. Confira abaixo a entrevista que Luiz Pinguelli Rosa concedeu ao Procel Info.

Procel Info - Com o PNEf, como a eficiência energética vai ser vista daqui para frente?

Luiz Pinguelli Rosa - Acho que viabiliza o Plano Decenal da EPE, que tem papel importante para a eficiência energética. Eles consideram que a eficiência energética total vai permitir uma redução de 13,3 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (tep), que é uma unidade de energia. Principalmente para o setor da indústria, que tem algumas áreas mais ligadas à energia elétrica, como os metais não ferrosos, alumínio e outros. É claro que eles tratam da parte de combustíveis em geral, inclui transporte, mas no caso da eletricidade é muito importante. Eu acho que esse Plano Nacional de Eficiência Energética vai contribuir para as metas do Plano Decenal, no caso de as medidas de eficiência energética serem viáveis.

Luiz Pinguelli Rosa
Procel Info - Qual a importância de se colocar metas de eficiência energética no planejamento?

Luiz Pinguelli Rosa - Anteriormente, a eficiência energética era contemplada de uma maneira não explícita. De certo modo, nas projeções, havia as considerações que já contavam com a eficiência energética. Mas eu acho bom como está agora, explicitar a contribuição. Por exemplo, agora, já temos um número: esses 13 milhões de toneladas equivalentes de petróleo, reduzidas devido à eficiência energética em 2019. Eu acho isso importante.

Procel Info - A eficiência energética pode impactar na economia do país?

Luiz Pinguelli Rosa - Impacta porque a eficiência energética evita o desperdício de energia. Obtém-se o mesmo resultado com menos energia e também há a atividade econômica em torno disso - investimento, tecnologia, engenharia, que vão trabalhar para a eficiência energética. Então, impacta a economia.

Procel Info - O Brasil tem se destacado nas conferências sobre clima. Como a eficiência energética pode contribuir no combate às mudanças climáticas?

Luiz Pinguelli Rosa - É a melhor maneira de se evitar a emissão de dióxido de carbono, porque quando se economiza energia, gasta-se menos combustível. Mesmo na geração elétrica, que no Brasil, é predominantemente hidrelétrica, já há um crescente uso de combustíveis na complementação termelétrica. Então, a eficiência energética permite gerar menos energia para a mesma finalidade. Não é que o consumo energético vai deixar de crescer, pois o país vai precisar ainda de mais energia. Há uma distribuição de renda que está sendo feita, vai haver maior compra de equipamentos elétricos domiciliares, principalmente, mas a energia consumida é menor, o que é vantajoso. Diminui a emissão de gases do efeito estufa, reduzindo o consumo do combustível.

Procel Info - Esse tema da eficiência energética tem sido discutido nas conferências sobre clima? Outros países apresentam projetos relacionados à conservação de energia?

Luiz Pinguelli Rosa - Esse é um item importante. O famoso relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas dava destaque à eficiência energética como um meio de evitar emissões de gases do efeito estufa e esses assuntos foram discutidos nas Conferências de Copenhague, na Dinamarca, em 2009, e de Cancún, no México, em 2010. É um ponto internacionalmente muito valorizado.

Procel Info - Que esforços o Brasil ainda poderia fazer nesse campo da eficiência energética?

Luiz Pinguelli Rosa - Ele precisa implementar as medidas, que, por enquanto, ainda estão no papel. Tem que sair do papel e ir para o real. O Brasil é muito bom de papel, mas às vezes as coisas não vão para o real, é preciso fazer acontecer. O setor elétrico tem uma boa tradição passada, que é o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica). Eu estou dizendo que temos um bom plano, mas é preciso que o plano saia do papel e vá para o mundo real. Esse é o esforço que o Brasil precisa fazer.

Fonte: Procel Info (26/01/2011)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

BNDES aprova R$6,1 bi para Angra 3; valor corresponde a 60% do orçamento da obra

O Banco Nacional de Desennvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou no final de 2010 um financiamento de R$6,1 bilhões para a construção da usina nuclear de Angra 3, que está sendo instalada em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. O montante corresponde a 58,6% do investimento total previsto para o projeto, orçado em R$9,9 milhões. A contratação do crédito agora aguarda manifestação do Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest - órgão do Ministério do Planejamento).

A usina também receberá R$890 milhões da Eletrobras - recursos oriundos da Reserva Global de Reversão (RGR), encargo cobrado dos consumidores de energia. Os valores são liberados para a Eletronuclear, braço da Eletrobras responsável pela energia nuclear no País. Para completar as operações financeiras, a estatal ainda vai captar 1,6 bilhão de euros no mercado externo.

As obras civis de Angra 3 foram iniciadas em 1984 e paralisadas em 1986. Em 2007 o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) autorizou a retomada do projeto. O início da operação comercial da planta está previsto para dezembro de 2015.

Entre os equipamentos já adquiridos e mantidos durante os últimos 24 anos em almoxarifados no próprio sítio da usina e nas instalações da Nuclep - estatal nuclear - estão os componentes de grande porte da chamada “ilha nuclear”, tais como vaso do reator, geradores de vapor, pressurizador e bomba principal de refrigeração; também estão armazenados os principais componentes do chamado circuito secundário, como turbinas de alta e baixa pressão, gerador elétrico e as bombas principais de água de alimentação e de condensado.

Fonte: Jornal da Energia (03/01/2011)